domingo, 8 de abril de 2007

Flor de lótus




Este texto foi resultado de quatro anos e meio e mais um sexta feira cansativa, é apenas um desabafo.

FLOR DE LÓTUS

Estudo e trabalho dentro de um dos, senão o maior, centro de produção de ciência e tecnologia, onde muitas empresas grandes estão instaladas. Estas empresas têm capacidade de patrocinar suas pesquisas, e assim desenvolver sua área de interesse. Curiosamente, quando vamos para a UFRJ, atravessamos um grande paradoxo.Um ponto de muito conhecimento, cultura, discussão de problemas, investimento em tecnologia rodeado de uma demanda de conhecimento, cultura, soluções ou pelo menos gestão de uma série de questões sócio-ambientais.Enquanto estamos protegidos em nossa rotina a parte desse universo paralelo em ebulição ao nosso lado, continuamos, entretanto, vendo, sentido o cheiro,ouvindo e torcemos apenas para chegarmos em casa sem compartilhar da violência que ocorre a nossa volta, sem entendermos o porque que uma gente tão boa e trabalhadora, que inclusive participa de passeatas pela paz vestido com uma camisa branca e empunhando um cartaz dizendo:"Paz por favor!, passa por isso.

Mas parece que nossos pesquisadores esqueceram que parte investimento destinado a UFRJ deve ser utilizada em projetos que estendam suas atividades à sociedade.

E ai, eis que, como a flor de Lótus, surge da lama composta por todo o tipo de material imaginável, uma casa flutuante. Ela aparece ali, na nossa cara, como uma bofetada nos nossos conceitos, argumentos, teses, antíteses e sínteses.

Para mim ela diz claramente: lixo é apenas um conceito inventado para determinar algo que não presta para ninguém, e que a partir do momento em que jogamos o lixo em uma lixeira, ele não faz mais parte de nossas vidas. Mas o que chamamos de "lixo não se observa em nenhuma manifestação da natureza, se todos os elementos que utilizamos para manufaturar o que precisamos já estavam ai em outra ordenação e proporção e se nós os rearranjamos, (e não sejamos pretensiosos de acreditar que somos os únicos rearranjadores de matéria) porque produzimos lixo? Outra coisa que brota na minha cabeça ao observar a cena de uma casa flutuante feita de “lixo” de frente a entrada da UFRJ é a estranha relação entre a acumulação de capital, a degradação ambiental e a produção deste “lixo”, enquanto as pessoas mais ricas produzem mais poluição, as pessoas mais pobres sofrem mais com os efeitos dela, e quando um pobre cata o lixo e o transforma, ou pelo menos participa ativamente do processo de re-introdução desse material no sistema ele não é reconhecido como ecologista, e sim como catador, para ser um ecologista ele precisa viver perto de uma floresta e catar o lixo da praia no dia da praia, ou falar de limpar a água no dia da água, ou abraçar uma árvore no dia da árvore, ou alguma coisa assim. Enquanto isso nossas bibliotecas continuam cheias de produção científica.

No curso de Geografia da UFRJ eu conheço dois professores que tem algum projeto de extensão universitária, entretanto sem uma projeção, ou valorização maior dentro do meio acadêmico, é possível que eu esteja enganado, e que durante esse quatro anos e meio que passei lá aconteceram vários projetos de extensão com vários professores, mas que eu não fiquei sabendo, mas se assim for o que me vendou todo esse tempo?

O tempo passa, os currículos engordam, os problemas aumentam, e continuamos a masturbar nossos cérebros acrescentando vírgulas no corpo cientifico, afinal, tudo pela ciência, a ciência pela ciência, salve a ciência pura, pura como a água sob a casa flutuante...


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