quinta-feira, 24 de julho de 2008

Terra de quem.

Nesta semana eu soube que atearam fogo em Tekoá Itarypú, a aldeia indígena de Camboinhas.



Nas ocas tinham 3 crianças, duas com aproximadamente 1 ano e outra de 11 meses.

O atentado ocorreu enquanto os homens da tribo estavam em uma reunião.

Ouço de algumas pessoas discursos como: "ali não é terra de índio", "os índios não tem mais a pureza de sua cultura", "os ídios são privilegiados porque não pagam impostos"..e por ai vai.

Bem lembrando que a ocupação de Camboinhas provavelmente deve ter menos de 50 anos e que o sambaqui de lá beira os 8 mil anos acho que de branco é que aquela terra não é. Afinal de contas, se você não tivesse para onde ir e soubesse de uma terra que é herança de seus antepassados, para onde você iria?

Eu acho engraçado a reinvidicação pela pureza da cultura indígena. Nós não nos vestimos nem nos comportamos como nosso avós, mas o índios devem ser assim. Nós interagimos com outras culturas, vestimos grifes importadas, adquirimos equipamentos importados que mudam nosso modo de vida, mas aos índios isso é uma degeneração. Correto seria congelar sua cultura no tempo e de preferência no espaço, porque não queremos a presença deles perto de nossas casas.


E os impostos, a isso tudo mundo tem que pagar!
A Mercedez Benz recebeu um pequeno incentivo fiscal de 690 milhões de reais..coitada ela não teria como pagar essa bagatela..http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/junho2002/unihoje_ju177pag03.html .
Detalhe isto se refere a apenas UMA grande empresa, somando o que todas deixam de pagar da para colocar mais alguns zeros nessa conta.

Não sei porque não cobramos impostos da aves, dos peixes, dos cachorros..quem sabe cobrando dessa galera toda a gente conseguiria cobrir um pouquinho do que as grandes empresas, que exigem altos investimentos em infra-estrutura e consomem os recursos naturais que temos a preço de banana, deixam de pagar. Afinal elas oferecem milhares de empregos não é?
Bondade delas é vir oferecer estes maravilhosos empregos que, apesar de inibirem qualquer tentativa de uma empresa brasileira, que paga impostos, se erguer , para nós isso é uma maravilha.

Bem o fato é que existiam milhões de índios que viveram durante muito tempo por aqui. E ao invés de aproveitarmos a oportunidade de conviver com essa cultura, que poderia nos ensinar outras formas de relacionamento com a natureza e a beleza de suas tradições ateam fogo numa comunidade indígena com crianças dentro.

Eu sinto grande tristeza com isso, mas é tempo de recomeçar a luta, enxugar as lágrimas e voltar a trabalhar e pelo menos já sei de que lado eu estou.

Um comentário:

Leandro disse...

Caro Mateus,

Agradeço muito sua colaboração ao comentar meus posts. Quanto ao fatos, vamos lá.

Primeiro é reconhecido que a clara ausência sistemática de um termo tão contundente nos jornais significa que essa escolha foi escolhida de maneira muito cuidadosa. Assim se configura claramente uma tomada de posição ideológica da mídia a favor de tal ou qual grupo ou idéia. E isso é o primeiro passo da preocupação.

No caso dos índios de Camboinhas a coisa é mais sutil. Afinal não há clara demonstração de aniquilação ou danos permanentes e irreversíveis a um grupo como ato intencional. O que ocorre ali é a simples desavença entre interesses locais. Se não vejamos.

Ao se instalarem em camboinhas em território que até então estava ali parado (desconheço se o terreno é de algum particular) o que eles causam é simplesmente a desvalorização da área e o desconforto das pessoas de se verem vizinhas repentinamente de índios. O que ali se configurou é sim um caso gravíssimo, pois já que ao invés de lutar pelos meios legais alguém, ou alguéns, ateou fogo em um aldeia de palha, a clara intenção foi homicídio. Mas nem por isso se caracteriza necessariamente por um plano sistemático nos moldes do genocídio.

Esses são sinais de um tempo em que valores estão afastados das decisões, e se antes de tudo o valor "econômico" prevalece em vez do humano é porque simplesmente a pessoa que ateou fogo, ao se declarar cristã, ou religiosa, nada sabe de seus valores, ou princípios. Necessariamente o que ali se configura é uma falta de qualquer outro motivo a não ser o valor monetário.

Infelizmente esse é o pé que anda nossos cidadãos compatriotas.